sábado, 29 de junho de 2013
quarta-feira, 26 de junho de 2013
A Caverna
A partir de várias fotografias manipuladas digitalmente,
Ana Neves constrói um espaço de sombras,
fragmentado e difuso, silencioso,
habitado por personagens/silhuetas irreconhecíveis.
A narrativa poética é complementada com excertos de "A Alegoria da Caverna", de Platão.
A música acentua a estranheza descritiva da mensagem.
O resultado final é, no mínimo, surpreendente.
terça-feira, 25 de junho de 2013
segunda-feira, 24 de junho de 2013
A legalização da escravatura
Há sempre um não sei quê de manipulação na forma como as notícias surgem ou são intencionalmente fabricadas.
Numa semana diz o noticiário:
O complexo do Alqueva deu um grande impulso à agricultura. No Alentejo há centenas de ofertas de empregos em novas explorações agrícolas. Com tanto desemprego, é difícil compreender porque é que os portugueses não aceitam trabalhar no Alqueva.
Manipuladas, as pessoas comentam, na rua, a pouca vergonha: Há trabalho aos pontapés na agricultura (o novo desígnio nacional!): os portugueses não querem é trabalhar!
- País de sornas e preguiçosos que gostam é de andar à boa vida! - Comentam os nórdicos, fazendo contas à capitalização dos juros agiotas cobrados aos seus vizinhos do sul. Repetem os governantes.
Uma semana depois diz o noticiário:
A inspeção geral do trabalho foi investigar as condições de trabalho em algumas explorações agrícolas do Alqueva. Em uma delas encontrou trabalhadores da Bulgária, da Roménia, de alguns países de leste e, até, de vários pontos da Ásia. Essas pessoas foram recrutadas por uma agência de emprego inglesa com sede em Londres. O encarregado da exploração é um inglês.
Quantas horas de trabalho realizam por semana? Pergunta o inspetor. Quarenta e oito ou mais, diz o inglês. Responde o inspetor, em inglês: Quarenta e oito? Não sei o que diz a lei inglesa mas em Portugal quarenta e oito horas de trabalho é ilegal! Está a perceber? É ilegal! O horário de trabalho em Portugal são quarenta horas por semana! E quantos dias trabalham por semana? Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo. Todos os dias? Não têm direito ao fim de semana? Não param, pelo menos um dia, para descanso? Não sei como é em Inglaterra mas em Portugal não ter direito ao fim de semana é ilegal! Está a perceber? E trabalham às vezes mais do que sete horas por dia e não recebem mais por essas horas? Se trabalharem horas a mais do que a lei determina e não recebem horas extraordinárias, é ilegal! Está a perceber? Não sei como é em Inglaterra mas em Portugal se as pessoas trabalharem para lá das horas semanais de trabalho sem serem compensadas é ilegal. Está a perceber? As horas suplementares são horas extraordinárias. E têm de ser pagas. Há vários trabalhadores sem contrato? Não sei como é em Inglaterra, mas em Portugal é obrigatório existir um contrato de trabalho. Isso é ilegal! Está a perceber? É ilegal!
Resumindo, em Portugal há situações de gritante ilegalidade nas relações laborais. E ninguém comenta, todos se calam. Isso é legal!
E eu dou por mim a pensar: Porque será que os portugueses não querem ir trabalhar nessas magníficas explorações agrícolas que há no Alqueva? Será porque são mesmo explorações a sério? Pergunto ainda: estão a recrutar trabalhadores ou escravos?
Acompanho a legislação laboral que o nossa iluminada governação vai propondo e compreendo que no Alqueva, à margem da lei, já se fazem experiências laborais com futuro: Trabalho precário, sem contrato, sem direitos pelo menor preço possível.
Ou seja, o nosso governo, passo a passo, em nome da competitividade, vai criando as condições ideais para tornar legal a escravatura.
E dentro em pouco também os inspetores do trabalho serão supranumerários e entrarão nas quotas dos excedentários da função pública. Os seus postos serão extintos porque tudo o que hoje é ilegal, por força de uma nova arquitetura legislativa, amanhã será legal.
E ninguém fará greve ao trabalho. Porque a lei vai determinar que a greve não pode prejudicar ninguém e só poderá ser feita nas horas de descanso.
Assim vai a democracia.
Podemos bater palmas que isso é legal!
Numa semana diz o noticiário:
O complexo do Alqueva deu um grande impulso à agricultura. No Alentejo há centenas de ofertas de empregos em novas explorações agrícolas. Com tanto desemprego, é difícil compreender porque é que os portugueses não aceitam trabalhar no Alqueva.
Manipuladas, as pessoas comentam, na rua, a pouca vergonha: Há trabalho aos pontapés na agricultura (o novo desígnio nacional!): os portugueses não querem é trabalhar!
- País de sornas e preguiçosos que gostam é de andar à boa vida! - Comentam os nórdicos, fazendo contas à capitalização dos juros agiotas cobrados aos seus vizinhos do sul. Repetem os governantes.
Uma semana depois diz o noticiário:
A inspeção geral do trabalho foi investigar as condições de trabalho em algumas explorações agrícolas do Alqueva. Em uma delas encontrou trabalhadores da Bulgária, da Roménia, de alguns países de leste e, até, de vários pontos da Ásia. Essas pessoas foram recrutadas por uma agência de emprego inglesa com sede em Londres. O encarregado da exploração é um inglês.
Quantas horas de trabalho realizam por semana? Pergunta o inspetor. Quarenta e oito ou mais, diz o inglês. Responde o inspetor, em inglês: Quarenta e oito? Não sei o que diz a lei inglesa mas em Portugal quarenta e oito horas de trabalho é ilegal! Está a perceber? É ilegal! O horário de trabalho em Portugal são quarenta horas por semana! E quantos dias trabalham por semana? Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo. Todos os dias? Não têm direito ao fim de semana? Não param, pelo menos um dia, para descanso? Não sei como é em Inglaterra mas em Portugal não ter direito ao fim de semana é ilegal! Está a perceber? E trabalham às vezes mais do que sete horas por dia e não recebem mais por essas horas? Se trabalharem horas a mais do que a lei determina e não recebem horas extraordinárias, é ilegal! Está a perceber? Não sei como é em Inglaterra mas em Portugal se as pessoas trabalharem para lá das horas semanais de trabalho sem serem compensadas é ilegal. Está a perceber? As horas suplementares são horas extraordinárias. E têm de ser pagas. Há vários trabalhadores sem contrato? Não sei como é em Inglaterra, mas em Portugal é obrigatório existir um contrato de trabalho. Isso é ilegal! Está a perceber? É ilegal!
Resumindo, em Portugal há situações de gritante ilegalidade nas relações laborais. E ninguém comenta, todos se calam. Isso é legal!
E eu dou por mim a pensar: Porque será que os portugueses não querem ir trabalhar nessas magníficas explorações agrícolas que há no Alqueva? Será porque são mesmo explorações a sério? Pergunto ainda: estão a recrutar trabalhadores ou escravos?
Acompanho a legislação laboral que o nossa iluminada governação vai propondo e compreendo que no Alqueva, à margem da lei, já se fazem experiências laborais com futuro: Trabalho precário, sem contrato, sem direitos pelo menor preço possível.
Ou seja, o nosso governo, passo a passo, em nome da competitividade, vai criando as condições ideais para tornar legal a escravatura.
E dentro em pouco também os inspetores do trabalho serão supranumerários e entrarão nas quotas dos excedentários da função pública. Os seus postos serão extintos porque tudo o que hoje é ilegal, por força de uma nova arquitetura legislativa, amanhã será legal.
E ninguém fará greve ao trabalho. Porque a lei vai determinar que a greve não pode prejudicar ninguém e só poderá ser feita nas horas de descanso.
Assim vai a democracia.
Podemos bater palmas que isso é legal!
terça-feira, 18 de junho de 2013
ULTIMATUM ÀS GERAÇÕES PORTUGUESAS DO SÉCULO XXI
Em 1917, com 22 anos, Almada Negreiros apresentou o “Ultimatum Futurista às Gerações
Portuguesas do Século XX”. Em sua homenagem, desafiamos as gerações
portuguesas do século XXI a escreverem o seu Ultimatum. O texto abaixo é uma criação colectiva
das turmas de Artes do 11º e 12º anos. Foi produzido em Novembro de 2012. Sob a capa da ironia esconde-se uma visão atenta e profunda da nossa realidade coletiva.
No futuro, AS PESSOAS do meu País – as que não estiverem mortas - serão
famosas por serem pobres, burras, pedintes, ladras, incultas, malucas,
egoístas, falsas, parvas, obesas, materialistas, influenciáveis, obcecadas e
infelizes.
Na verdade, todas as pessoas gostariam
de ser optimistas, felizes, positivas, solidárias, sonhadoras, racionais,
sorridentes, preocupadas com os sentimentos dos outros. No meu País, todas as pessoas
poderiam ser exemplos de como é possível ser-se feliz com pouco.
No futuro AS LEIS do meu País terão como objectivo manipular, destruir,
prender, enganar, rebaixar, roubar e explorar as pessoas que irão sofrer mais.
Elas vão tirar o poder ao povo, para que as pessoas sejam mais pobres, paguem
os impostos e enriqueçam os políticos. As leis ajudarão a acabar com o que resta
do País e a torná-lo pior. A lei geral será: “come e cala-te”; “paga muito e
leva pouco”. Só existirá justiça para quem tiver dinheiro.
As leis do meu País no futuro deveriam
ter por lema ”a justiça acima de tudo”. Deveriam ser iguais para todos, ensinar
e ajudar o povo, melhorar a qualidade de vida, salvar o planeta, promover o bem
e a justiça. As leis poderiam reformular tudo.
No futuro, A FUNÇÃO DAS ESCOLAS será ensinar a comer, a plantar ervas, a
atirar folhas ao vento, a criar ratos de laboratório (e não pessoas com
valores), robots e delinquentes, cada vez mais idosos. Ela ensinará coisas
inúteis, oprimirá o pensamento, retirará toda a criatividade e instruirá cada
vez pior. A escola terá como função programar a mente do povo, ensinando o que
mais convém, para manipular as pessoas. Ela será um porto de abrigo para as
mentes oportunistas que ensinará a desenrascarem-se. A escola no futuro venderá
napolitanas a preços exorbitantes.
O ideal seria que a escola fosse mais
cativante e menos rígida, que ensinasse melhor e de forma mais criativa, coisas
úteis, organizando os tempos dos alunos, dando-lhes competências práticas para
uma vida profissional de sucesso, para que tenham um futuro melhor, para que
sejam “cultos”.
No futuro, OS GOVERNANTES do meu País serão os jovens mais estúpidos e menos
promissores de hoje; serão os patos azuis, machistas, porcos, “ciganos”, donos
de bancos, a desgraça; serão robots, gananciosos de poder, ladrões. Serão tudo
menos políticos. Serão, provavelmente, iguais ou piores, mais corruptos e
vigaristas que os anteriores (os velhos rabugentos que se acham imortais).
No futuro, os governantes do meu País deveriam
sair do povo, ser simples, generosos, honestos e cumpridores das suas
promessas.
No futuro as pessoas entenderão A VIDA como longa, inútil, repetitiva,
o maior pesadelo que não podem controlar; a vida será um sítio sombrio, uma
alma morta, uma viagem de comboio, curta, cheia de paragens e confusões; um
sofrimento, um inferno, horrível, um supermercado, uma loucura; apenas uma
sucessão de acontecimentos sem sentido; um desafio à sobrevivência porque só
trabalhamos para pagar impostos. Será apenas um jogo, um ciclo (nascer, viver,
morrer), uma coisa básica, obrigatória. No futuro, as pessoas terão saudades
daquela vida que viveram no passado e, até, de simplesmente respirar.
No futuro a vida deveria ser algo raro, único,
divertido; como uma dádiva, uma bênção, uma sorte que deveria ser aproveitada;
uma mudança constante, uma metamorfose para melhor, sem sofrimento; uma luz ao
fundo do túnel.
No futuro compreenderemos A NATUREZA como um bem de que não cuidamos
e que destruímos quando só pensamos na riqueza, nas matérias-primas, na
alimentação fast-food e criamos pessoas robots que conduziram o mundo ao
desaparecimento, à extinção.
No futuro compreenderemos a natureza
como uma dádiva que nos é oferecida, o melhor, o refúgio, o bem-estar, a “mãe”,
a parte essencial da vida na terra que devíamos observar e apreciar nos seus pormenores.
Uma simples cor, bonita, pura, fascinante.
No futuro A CIÊNCIA servirá para ganhar dinheiro, criar cada vez mais
tecnologias, vidas robóticas, máquinas do tempo, comida sintética, clones, mas
poucas coisas úteis. A ciência irá investigar o pensamento humano e criar
máquinas de tortura política. Ela criará novas formas de vida e inventará os
meios de mandar as pessoas para outros planetas. Ela tornará imortais os ricos
e os políticos.
Idealmente, a ciência deveria servir
para corrigir os erros do passado, encontrar uma forma de nos livrarmos de
tanto lixo que há na Terra e no espaço, criar um mundo novo, descobrir a cura
para certas doenças, ajudar a um desenvolvimento positivo. Ela deveria ajudar
as pessoas, servir o povo, trazer cultura.
No futuro O TRABALHO será entendido como algo inevitável, indispensável, necessário,
um dever, uma obrigação, um meio de sobrevivência, uma fonte de rendimento. Ele
causará um enorme desgaste físico e emocional porque as pessoas viverão na
escravidão. Será algo que todos desejam e não têm por causa do desemprego, uma
sorte.
Se houvesse mais justiça e igualdade, no
futuro o trabalho seria um gosto, um prazer, um passatempo, uma diversão, uma
experiência de vida que contribuiria para a nossa felicidade, uma esperança.
No futuro AS NOSSAS CASAS deixarão de ser um porto seguro: serão cavernas, cabanas,
barracas feitas de restos ou será, até, a rua nas favelas hipotecadas.
Mas elas também poderão ser casas mais
pequenas (para poupar espaço), ecológicas, automáticas, electrónicas, criativas
e dotadas de vida própria. Poderão voar, flutuar, ser transportáveis e boiar
sobre as águas. Poderão também estar no céu e serem redondas como bolas de
futebol ou, então, poderão estar de cabeça para baixo, ligadas por subterrâneos.
Elas serão únicas, diferentes e virão ao nosso encontro. Serão o nosso refúgio,
cheio de paz e harmonia; nelas existirão aqueles a quem chamamos pai e mãe.
Alguma serão casinhas de bonecas automáticas, mais bonitas e menos funcionais,
feitas para serem comidas.
No futuro A ENERGIA será importante, escassa e caríssima.
Idealmente, no futuro, a energia deverá
ser inesgotável, infinita, cor-de-rosa, de graça e provir de fontes renováveis
e não poluentes (o vento, o sol, o mar). No futuro ela poderá ser produzida
pelo cérebro, pelo pensamento, ou poderá até ser obtida a partir da comida que
comemos. Ela será utilizada para vivermos os dias da melhor maneira.
No futuro SEREMOS RECONHECIDOS COMO POVO PORQUE não teremos direitos, seremos
pobres e não teremos dinheiro para sonhar mais alto. Os outros tratar-nos-ão
como lixo. Seremos, todos iguais, loucos, ignorantes, bárbaros e revoltados; teremos
orelhas grandes, pernas, estaremos vivos, seremos a raça mais inteligente;
comeremos todos do mesmo saco.
Idealmente, no futuro, deveríamos ser
reconhecidos por sermos humanos e nos apoiarmos uns aos outros. Por sermos
pessoas civilizadas e racionais, por sermos unidos, por trabalharmos em equipa,
por termos um pensamento comum, como um só; por sermos lutadores, por termos
raça e ambição. Seremos reconhecidos pelas coisas positivas. No futuro ninguém
vai mandar em ninguém, todos seremos iguais.
POSSO CONTRIBUIR PARA O FUTURO QUANDO for mais velho, tiver 22 anos, 4
meses e 17 dias, e fugir daqui porque me revoltei a sério com esta porcaria
onde não há dinheiro nem futuro. Poderia comer mais e brincar menos, ou dar um
tiro nos políticos. Contribuirei para o futuro quando morrer e alimentar as
larvas
Idealmente, eu poderia contribuir para o
futuro se tivesse uma especialização em determinada área, uma carreira estável
e o meu próprio salário; se eu tivesse voz e fosse alguém na vida; se eu
lutasse por aquilo que acho que é importante; se o meu país implementasse uma
panóplia de oportunidades diversas que eu pudesse escolher. Se eu fizesse algo
especial, único; se eu criasse algo novo, giro, interessante;
Poderei contribuir para o futuro quando
chegar o tempo e estiver na hora, quando as mentalidades mudarem e se deixar de
ver o escuro de cada nuvem a aproximar-se. Se comesse mais e brincasse menos,
se não gastasse o dinheiro dos meus pais, se legalizassem a marijuana…
No futuro, O LEMA DO MEU PAÍS SERÁ o lema de todos os países e estará escrito em
chinês mandarim (porque os chineses vão apoderar-se do mundo e nós não
pertencemos aos EUA). Esse lema será: escravo, trabalha mais para teres menos; pobre
hoje, pobre a vida toda; sê egoísta, ama-te a ti mesmo; desenrasca-te; vive
para morrer; mata para viver ou não comes; pilha e rouba os pobres; e, se
puderes, muda de país porque aqui não vale a pena ficar. Vive rápido, morre
jovem, perde. Quem não tem dinheiro não pede empréstimos.
Seria melhor que esse lema fosse: somos
poucos mas valiosos; luta pelo teu Pais; unidos jamais seremos vencidos;
respeito, dedicação, paz e amor; aproveita a vida. Cria algo de novo. O povo é
o governo. Juntos sobreviveremos.
CONTRIBUIRAM PARA A
CONSTRUÇÃO DO MANIFESTO: 12ºE - Ana Silva, Ana Filipa Moedas, António Vila Nova, Erica Laranjo,
Inês Mártires, Letícia Domingues,
Luciana Fernandes, Pedro Nascimento, Sofia Machado, Sofia Basílio 11º E -Ana Cardoso, Ana Pedras, Daniela Cardoso, Débora Peres, Filipa Mesquita, Gabriella Gerjy, Guilherme Costa, Ion Popa, João Rodrigues, Luís Graça, Margarida Cruz, Maria Cortez, Marina Pestana, Raphael Madeira, Sandra Cruz, Séfora Molnar, Vera Pissarreira.
Fruto Seco 4
Inês Mártires
analisou uma noz, recorrendo a vários materiais sobre papel de desenho A4.
Grafite, formato A4 |
Marcador, formato A4 |
Sanguínea, formato A4 |
Tinta da china, formato A4 |
O resultado final (em formato A2) foi uma composição dinâmica, utilizando uma técnica mista, na qual explorou o ritmo, o movimento, o contraste cheio/vazio, as variações de escala da noz para traduzir uma ideia de profundidade e espaço.
domingo, 16 de junho de 2013
O mal não é da escola, é do estado
Nas escolas portuguesas há
crianças a passar fome porque os salários dos seus pais são de morrer à fome;
algumas já não tomam banho em casa porque lhes cortaram a água;
outras não fazem pesquisas porque tiveram de vender os computadores e desligar o telefone;
outras não têm livros nem materiais didáticos porque não há subsídios de férias e natal
e os impostos são formas legais de roubo que comem o mais que podem dos rendimentos familiares.
Nas escolas portuguesas,
tal como na sociedade portuguesa,
há crianças e estudantes que perderam todos os direitos conferidos a uma criança.
E essas crianças e estudantes são cada vez mais a maioria,
fabricada pela falência generalizada de toda a economia.
Sobre elas não se escuta uma palavra de simpatia do governo,
do ministério da educação, dos comentadores políticos.
E porquê?
Porque a causa do mal não é a escola, é o estado.
Nas escolas portuguesas há
funcionários que já não ganham decentemente para pagar as despesas mensais.
Há gente desesperada, suicida, a enlouquecer de medo, raiva, ódio, sem futuro.
Se estão doentes, não têm dinheiro para ir ao médico.
Adoecem e morrem na antecâmara da morte que é a escravidão do seu trabalho,
sem reconhecimento, sem compreensão, sem estímulo.
Tratados como alimárias excedentárias que podem ser exploradas à revelia de todos os direitos.
São simples números que constam numa folha de Excel.
Todos os dias, invariavelmente, essa gente que desembrulha sandes à hora do almoço,
que destapa caixas de plástico com sopa,
já paga para trabalhar.
E sofre todos os dias a brutalidade de quem os espezinha.
E carrega, invisível, ao pescoço, uma corrente de escravatura que apaga todos os seus direitos.
Sobre eles não se escuta uma palavra de simpatia do governo,
do ministério da educação, dos comentadores políticos.
E porquê?
Porque sabem de o mal não é da escola, é do estado.
A escola portuguesa tem
filhos de pais de todas as condições sociais e estratos económicos.
Mas também
filhos de pais imigrantes que se esforçam por ter vidas dignas,
filhos de gente humilde e laboriosa que tem honra,
e filhos de pais desempregados em desespero,
filhos de famílias desestruturadas que perderam tudo e vivem da caridade,
filhos daqueles a quem o futuro foi definitivamente negado
por políticas suicidas de empobrecimento generalizado.
Sobre essas famílias cujos filhos estudam na escola pública,
casos que todos os dias entram pelas portas das salas de aulas com os seus fantasmas,
nem uma palavra de simpatia se escuta do governo,
do ministério da educação, dos comentadores políticos.
E porquê?
Porque sabem que o mal não é da escola, é do estado.
Nas escolas portuguesas há
professores à beira da insolvência,
que já não compram livros, não leem, não estudam, não se informam
porque não já ganham para ter acesso à cultura e ter conhecimento.
Esses professores estudaram, tiraram cursos superiores, licenciaram-se.
Entre eles há gente com mestrados, doutoramentos, pós-graduações.
Gente com trabalhos relevantes que contribuiu para o progresso do país.
Gente que dinamizou as áreas da cultura, das ideias, das artes, do associativismo, do desporto;
Gente que foi exemplo para muita gente
e que ajudou a construir comunidades mais humanizadas e progressistas.
Essa gente é enxovalhada, menorizada, desprezada, desqualificada e, sobretudo,
tratada como mentecapta e incapaz
por uma elite inculta e presunçosa, cúmplice de gente gananciosa e pérfida,
fechada numa redoma de intolerância e protegida por batalhões de guarda-costas.
São os mais qualificados do país e tratam-nos como lixo,
com o mesmo respeito com que tratam a cultura, a história, a arte, a filosofia, o pensamento
e todos aqueles que, por mérito próprio, sem compadrios, se destaquem da sua pomposa mediocridade.
Porque a escola, dizem esses génios do neoliberalismo predador,
deverá ter como função prioritária, apenas, produzir mão-de-obra qualificada para as suas empresas.
Mão-de-obra barata, escrava e subserviente que não saiba pensar e tudo aceite sem reclamar.
É sobretudo porque nas escolas ainda há massa crítica, pensamento independente,
prática democrática e sentido de liberdade que se deve destruir a escola pública.
Quem assim pensa estupidamente cai num erro de consequências devastadoras:
a destruição da escola é o princípio irreversível da implosão cultural de um país.
É assim que pensam
porque sabem que o mal não é da escola, é do estado.
crianças a passar fome porque os salários dos seus pais são de morrer à fome;
algumas já não tomam banho em casa porque lhes cortaram a água;
outras não fazem pesquisas porque tiveram de vender os computadores e desligar o telefone;
outras não têm livros nem materiais didáticos porque não há subsídios de férias e natal
e os impostos são formas legais de roubo que comem o mais que podem dos rendimentos familiares.
Nas escolas portuguesas,
tal como na sociedade portuguesa,
há crianças e estudantes que perderam todos os direitos conferidos a uma criança.
E essas crianças e estudantes são cada vez mais a maioria,
fabricada pela falência generalizada de toda a economia.
Sobre elas não se escuta uma palavra de simpatia do governo,
do ministério da educação, dos comentadores políticos.
E porquê?
Porque a causa do mal não é a escola, é o estado.
Nas escolas portuguesas há
funcionários que já não ganham decentemente para pagar as despesas mensais.
Há gente desesperada, suicida, a enlouquecer de medo, raiva, ódio, sem futuro.
Se estão doentes, não têm dinheiro para ir ao médico.
Adoecem e morrem na antecâmara da morte que é a escravidão do seu trabalho,
sem reconhecimento, sem compreensão, sem estímulo.
Tratados como alimárias excedentárias que podem ser exploradas à revelia de todos os direitos.
São simples números que constam numa folha de Excel.
Todos os dias, invariavelmente, essa gente que desembrulha sandes à hora do almoço,
que destapa caixas de plástico com sopa,
já paga para trabalhar.
E sofre todos os dias a brutalidade de quem os espezinha.
E carrega, invisível, ao pescoço, uma corrente de escravatura que apaga todos os seus direitos.
Sobre eles não se escuta uma palavra de simpatia do governo,
do ministério da educação, dos comentadores políticos.
E porquê?
Porque sabem de o mal não é da escola, é do estado.
A escola portuguesa tem
filhos de pais de todas as condições sociais e estratos económicos.
Mas também
filhos de pais imigrantes que se esforçam por ter vidas dignas,
filhos de gente humilde e laboriosa que tem honra,
e filhos de pais desempregados em desespero,
filhos de famílias desestruturadas que perderam tudo e vivem da caridade,
filhos daqueles a quem o futuro foi definitivamente negado
por políticas suicidas de empobrecimento generalizado.
Sobre essas famílias cujos filhos estudam na escola pública,
casos que todos os dias entram pelas portas das salas de aulas com os seus fantasmas,
nem uma palavra de simpatia se escuta do governo,
do ministério da educação, dos comentadores políticos.
E porquê?
Porque sabem que o mal não é da escola, é do estado.
Nas escolas portuguesas há
professores à beira da insolvência,
que já não compram livros, não leem, não estudam, não se informam
porque não já ganham para ter acesso à cultura e ter conhecimento.
Esses professores estudaram, tiraram cursos superiores, licenciaram-se.
Entre eles há gente com mestrados, doutoramentos, pós-graduações.
Gente com trabalhos relevantes que contribuiu para o progresso do país.
Gente que dinamizou as áreas da cultura, das ideias, das artes, do associativismo, do desporto;
Gente que foi exemplo para muita gente
e que ajudou a construir comunidades mais humanizadas e progressistas.
Essa gente é enxovalhada, menorizada, desprezada, desqualificada e, sobretudo,
tratada como mentecapta e incapaz
por uma elite inculta e presunçosa, cúmplice de gente gananciosa e pérfida,
fechada numa redoma de intolerância e protegida por batalhões de guarda-costas.
São os mais qualificados do país e tratam-nos como lixo,
com o mesmo respeito com que tratam a cultura, a história, a arte, a filosofia, o pensamento
e todos aqueles que, por mérito próprio, sem compadrios, se destaquem da sua pomposa mediocridade.
Porque a escola, dizem esses génios do neoliberalismo predador,
deverá ter como função prioritária, apenas, produzir mão-de-obra qualificada para as suas empresas.
Mão-de-obra barata, escrava e subserviente que não saiba pensar e tudo aceite sem reclamar.
É sobretudo porque nas escolas ainda há massa crítica, pensamento independente,
prática democrática e sentido de liberdade que se deve destruir a escola pública.
Quem assim pensa estupidamente cai num erro de consequências devastadoras:
a destruição da escola é o princípio irreversível da implosão cultural de um país.
É assim que pensam
porque sabem que o mal não é da escola, é do estado.
sexta-feira, 14 de junho de 2013
Ilustração de livro 3
Inês Mártires escolheu para ilustrar o clássico conto O Capuchinho Vermelho.
Usou aguarelas e tinta da china sobre papel.
A paleta de cores é muito reduzida para acentuar o lado sombrio da história.
Há um jogo permanente e ambíguo entre a forma e o fundo.
A figura negativa é uma sombra constante, ameaçadora.
As silhuetas negras evocam a ideia de um teatro de sombras chinesas.
A solução gráfica é plasticamente bem sucedida.
A solução gráfica é plasticamente bem sucedida.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Ilustração de livro 2
Ana Moedas escolheu três contos de Edgar Allan Poe para ilustrar:
O Gato Preto,
O Corvo e
O Coração Delator.
.
Edgar Allan Poe (Janeiro de 1809 - Outubro de 1849)
Escritor, poeta, romancista, crítico literário e editor norte-americano, foi considerado o mais poderoso escritor do seu tempo.
Mestre do mistério, do terror e do macabro, exerceu grande influência nas gerações simbolistas e modernistas, tendo-se tornado um escritor de culto.
Ana Moedas usou uma paleta de cores muito reduzida para traduzir o ambiente de terror e mistério dos contos de Poe: o vermelho, o negro e o branco . Usou uma mancha vermelha aguada em fundo e trabalhou as formas com tinta da china e grafite.
Do que é viver
Guardo no meu silêncio
A ciência do sentido
Que é de todas as casas
A mais inacessível.
É pelas janelas da minha alma que voo
Com a primavera extasiada
Pelas cores despertas
Quando o céu é o pensamento.
E sigo na paisagem que se perde,
Entre o cheio e o vazio,
O dentro e o fora,
A luz e a sombra,
Preso ao fio da existência,
Paciente.
Guardo cada um esses pedaços
De cal, terra, pedra, musgo e sol,
E construo, com a frágil delicadeza das raízes,
As cidades imaginárias do amor
Com seus parques de sorriso e voz,
Onde me sento.
Fecho os olhos.
Aqueço a noite.
E sinto o sabor volátil,
Irrepetível,
Colado à língua,
Do que é viver.
RB., Junho 2013
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