quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

AVES DE PASSAGEM


Das profundas memórias de um fluxo contínuo do tempo, a tua presença se desenha misteriosa nas mil formas que viveste. É o mesmo olhar sereno que atravessava a contemplação da noite a indagar o infinito. Nele adivinho a melodia estelar de uma saudade inexplicável, esse campo imaginado onde às vezes te passeias solitária. O teu silêncio é um caminho de luz que se faz em pensamento, até ao lugar intraduzível, em busca da morada desejada a que regressas, ao fim de cada ciclo, na eterna primavera. Como eu te compreendo, ser imortal, jóia de luz, sol da eternidade, na prisão de um corpo, a desejar o céu e a liberdade. Compartilho da tua estranheza de pássaro, na sombria pausa deste lugar distante. Também eu me debato neste exílio de passagem por conquistar as asas de um amor sublime. Sei que aguardamos apenas o cair da tarde, a serena madrugada, para desvendar o voo transcendente das nossas asas libertas nesse céu ilimitado, nessa absoluta verdade, nessa poderosa energia criadora: o amor.

Reinaldo Barros 2016

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

COROEI-TE DE FLORES


Contigo atravessei as fronteiras do tempo, na eternidade. Em cada reencontro, coroei-te de flores. Recebeste-me no altar das amendoeiras, sob o céu estrelado, e dançaste comigo no balanço do infinito. Simples, no teu mistério, guardiã da minha intimidade, senhora dos meus segredos. A tua generosa sabedoria procurou o meu refúgio e encontrei-me em ti de onde sempre vim, onde retorno. Só tu entendes o porquê deste meu desejo de voar, meu céu, minha luz, minha casa. Vivo a verdade da tua transparência, aguardando aquele dia que nunca terá fim.