sábado, 27 de julho de 2013
terça-feira, 23 de julho de 2013
quinta-feira, 18 de julho de 2013
O JOVEM FRANCISCO
Reinaldo Barros, Jovem Francisco, acrílico e carvão sobre cartão, 2013. |
Como visitas espaçadas e regulares, materializam-se os rostos serenos dos seres imaginários que vivem numa realidade paralela, algures.
Atravessam o nevoeiro difuso que separa os nossos mundos e surgem, silenciosos, diante de mim, a dar testemunho de si.
O último deles chama-se "O Jovem Francisco".
Só por acaso registei o seu processo de materialização.
terça-feira, 16 de julho de 2013
MÃE E FILHA
Reinaldo Barros, Mãe e Filha, pastel de óleo sobre papel, 2013 |
Há profundos vínculos entre mãe e filha. Cumplicidades profundas tecidas de sentimentos partilhados, pelos quais a vida flui multiplicada na continuidade da génese. Elas são as guardiãs da ternura, da compaixão, da humanidade. O seu corpo abriga o mistério dos corpos daqueles que chegam anónimos ao palco do mundo. São elas que alimentam, guiam, orientam, educam, aqueles que despertam. Há nelas um poder imenso que mesmo elas, muitas vezes, desconhecem.
Foram elas que definiram o calendário, o ciclo das luas, o valor das sementes, as ervas que curativas.
Ligadas à terra, liam o futuro e falavam com as forças invisíveis dos ancestrais.
Foram elas que definiram o calendário, o ciclo das luas, o valor das sementes, as ervas que curativas.
Ligadas à terra, liam o futuro e falavam com as forças invisíveis dos ancestrais.
Muito antes da história, nas primeiras idades, elas eram as filhas da grande deusa-mãe, aquela que é vida.
Prefiro a ideia de alguns antropólogos de que a humanidade evoluiu pela solidariedade das mulheres entre si e que foi a compaixão pelos mais fracos e não a força que determinou o sucesso da nossa espécie.
Prefiro a ideia de que foi o amor que determinou a nossa evolução.
E nessa crença, creio que quando despertar a nova consciência humana, será o amor a determinar infalivelmente o nosso futuro coletivo.
A Terra será novamente Gaia, a Mãe, e todas as formas de Vida serão sagradas.
LADY IN THE WATER: A “SURFAR NOUTRA ONDA”
Agora que
estreou nas salas o último filme de M. Night Shyamalan, Depois da Terra, uma fantasia pós-apocalíptica protagonizada por
Will e Jaden Smith, instalou-se-me a vontade de escrever não sobre este mas sobre
um outro filme do cineasta, A Senhora da
Água, de 2006, com Bryce Dallas Howard, Paul Giamatti e o próprio
Shyamalan, que aborda as mais pertinentes questões para a vida actual neste
mundo, em vez de para a vida num mundo depois deste…
Para este
cineasta, as histórias fantásticas que filma, sejam elas sobre fantasmas (O Sexto Sentido), sobre super-heróis (Unbroken/O Protegido), sobre
extraterrestres (Sinais), sobre
monstros (A Vila) ou sobre ninfas (A Senhora da Água), são um pretexto para
abordar questões profundamente filosóficas. Enquanto em O Sexto Sentido tínhamos a questão da verdadeira natureza da
existência, em Unbroken/O Protegido
tínhamos a questão da tomada de consciência dos poderes que possuímos, em Sinais tínhamos a questão da importância
da fé, e em A Vila tínhamos a questão
do posicionamento face ao medo de perdermos aqueles que amamos, em A Senhora da Água temos a síntese de
todas essas questões: Qual o sentido da existência? Qual o nosso lugar e papel
no mundo? Qual o resultado da fé (ou da sua ausência) na nossa vida? Qual o
significado das tragédias que nos afectam a nós e aos outros? Que impacte têm
as nossas acções e/ou a nossa inércia sobre o nosso futuro e o dos outros? De
que modo poderão as nossas supostas fraquezas e os nossos alegados defeitos vir
a ser úteis? Que relevância possuem determinados detalhes a que não damos
importância? Estaremos manietados pelo determinismo ou, pelo contrário, seremos
dotados de livre arbítrio? E em que é que a crença num ou noutro nos fortalece
ou fragiliza?
Tal como em Sinais (o reverendo) e em A Vila (a comunidade), em A Senhora da Água temos personagens que
vivem assombradas pelo seu passado trágico; personagens que desistem de viver
“normalmente”, escudando-se numa existência, de certo modo, marginal
(Cleveland, Mr. Leeds e outros moradores do condomínio). No entanto, essas
personagens não conseguem fugir a esse passado, são movidas a lutar para
esconjurar os demónios que as perseguem e a curar as feridas que as atormentam.
Cleveland (personagem central no filme, tratando dos aspectos materiais do
condomínio, mas cuidando também da alma dos seus moradores) consegue-o com a
ajuda de uma ninfa do mar – uma imitação etérea de si próprio –, como que
mostrando que a nossa salvação reside em nós próprios.
Neste sentido, A Senhora da Água, sob a máscara de
fábula, de conto infantil com contornos fantásticos, em que estão presentes, de
facto, todos os ingredientes – ninfas, receptores, guardiães, curandeiros,
intérpretes, associações, monstros –, é, acima de tudo, um filme que nos
confronta com as nossas dúvidas (e certezas) de seres adultos e que nos propõe
a reflexão sobre elas. A Senhora da Água
é também um enormíssimo testemunho de fé de Shyamalan na humanidade: perante a
angústia e o desânimo de Cleveland, Story afirma: “Tu tens uma razão de ser.
Todos os seres têm uma razão de existir”; mais tarde, perante a pergunta de Mr.
Leeds “O Homem merece ser salvo?”, a resposta de Cleveland é peremptória: “Sim”.
No que concerne
a aspectos técnico-formais e estéticos e às interpretações, A Senhora da Água conta com uma
fotografia assombrosa de Christopher Doyle – atente-se nos jogos de cores e luz
que demarcam os espaços seguros (interior dos apartamentos carregado de
ocres/cores quentes) e os inseguros (piscina, floresta e céu em azul/verde
frios/sombrios) –, com uma banda sonora muito discreta de James Newton Howard,
que se adequa na perfeição à estória que é contada, com interpretações bastante
credíveis e conseguidas de Paul Giamatti (Cleveland) e Bryce Dallas Howard
(Story), e com enquadramentos maravilhosos, de que são exemplo três “jogos de
espelhos”: Story em frente de Cleveland, no chuveiro, com a sua imagem
reflectida paralelamente na parede, em perfeita simetria; Story junto à
piscina, a acenar para Cleveland, com a sua imagem reflectida verticalmente na
água, novamente em perfeita simetria, enquanto se verifica um zoom-out que termina em “desfocagem”; Story
em frente a Cleveland, junto à piscina, no momento sublime em que ela é captada
e...
O filme foi um
“flop”, um fracasso de bilheteira e, também, muito maltratado pela generalidade
da crítica? Sim, e depois?! Desde quando é que a qualidade de um filme e o
prazer que podemos obter em disfrutá-lo são sinónimos de sucesso de bilheteira
e de incenso da crítica especializada? Siga o conselho do poeta Coleridge: suspenda
voluntariamente a incredulidade. E siga igualmente o meu: veja com os seus
próprios olhos, ouça com os seus próprios ouvidos, sinta com o seu próprio ser.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
quinta-feira, 11 de julho de 2013
terça-feira, 9 de julho de 2013
Pintura - A energia das flores
Reinaldo Barros, A Energia das Flores, técnica mista sobre tela, Julho de 2013 |
Não procurei nesta pintura o realismo obediente das formas mas o acto espontâneo da criação, a beleza que existe para além das formas. Beleza que só pode ser percepcionada pelos sentidos da alma e que se converte em sentimentos que são formas subtis de modelar energia e vibração.
A cor dos pigmentos não é suficientemente pura para traduzir em luz o que a imagem idealmente representa. Mas pulsa o contraste de cores em harmonia, conduzindo à serenidade interior, ao equilíbrio.
A mesma energia que vibra nas formas vegetais, vibra em nós.
Todo o universo é energia organizada em diferentes estados.
O próprio pensamento é energia.
Há uma outra realidade para lá dos corpos.
Intuitivamente sabemos isso, não sabemos é como explicá-lo.
Mas o amor sabe, o amor entende. É quanto, por ora, basta.
Reinaldo Barros, Julho de 2013
Os pequenos milagres da vida
Reinaldo Barros, Túnel de Cores, Julho de 2013 |
A criança aceita o desafio de explorar o mundo com todas as suas sensações e percepções.
A novidade estimula todos os seus sentidos e o cérebro é invadido por ondas contínuas de informação.
Porque é naturalmente curiosa, experimentar é descobrir, criar ciência, deslumbrar-se.
Aos poucos forma-se a consciência de si, do outro, da vida, do universo.
A memória amplia as dimensões do espaço e do tempo: voa-se ao cosmos dos grandes ideais.
Com essa capacidade inata, em cada um de nós repousa a chave da felicidade.
Mais tarde, a educação cultiva o medo que cerceia a imaginação e a criatividade.
A sociedade condiciona, a chicote, a liberdade às regras do mercado.
E todo o pensamento é trabalhado para se retrair nas angústias depressivas de um sistema social, laboral, económico e cultural que não responde aos anseios profundos da alma.
Deixamos de viver o mais importante de todos os momentos que é o "agora".
Definha-se em nostalgia num passado que nunca mais será ou na ilusão de um futuro que poderá nunca ser.
Morre-se por dentro que é a mais bizarra de todas as mortes, porque em cada um de nós germina o anseio da eternidade que não se compadece com a mentira coletiva que todos os dias se reformula nas subtilezas da corrupção.
Definha-se em nostalgia num passado que nunca mais será ou na ilusão de um futuro que poderá nunca ser.
Morre-se por dentro que é a mais bizarra de todas as mortes, porque em cada um de nós germina o anseio da eternidade que não se compadece com a mentira coletiva que todos os dias se reformula nas subtilezas da corrupção.
Quem souber conservar esse estado interior da infância, saberá encontrar a beleza e a maravilha em todos os pequenos milagres da vida. E é nessas pequenas maravilhas diárias que se frui a vida e se é feliz.
Tudo é breve. Tudo passa. Permanece o essencial. Só o amor é eterno.
Reinaldo Barros, Julho de 2013
Reinaldo Barros, Julho de 2013
domingo, 7 de julho de 2013
A sombra de si
Na tela esticada projetam-se as sombras do mundo, lá fora.
Não há vislumbre de espaço, nem cor. Apenas silhuetas vagas e familiares.
A luz, filtrada pelo tecido que se interpõe entre o meu olhar e o mundo, é baça e difusa.
Existe uma barreira de ferro oculta que se deixa fotografar ostensivamente, sem pudor.
A imagem, estática, não registou a brisa que enfunava a tela, nem o som dos pássaros livres, nem o riso das crianças que brincam distraídas, aqui ao lado.
As sombras chinesas têm a sua poesia, o seu mistério. Mas são uma verdade manipulada e relativa.
Rodando o meu olhar, noventa graus à minha esquerda, vejo o mar e o céu azuis.
A encosta desce em declive suave, coberta de verdes copas, num chão vermelho e sépia.
A vida tem estes contrastes de solidão e alegria, prisão e liberdade, ocultação e transparência.
A verdadeira realidade é sempre mais do que aquilo que imperfeitamente percecionamos.
A sabedoria nasce de compreendermos que muitas das nossas crenças não passam de uma fugaz ilusão que se projeta na tela dos nossos pensamentos. E que todo o sofrimento decorre da mentira em que vivemos. E que somos apenas sombras de mentiras projetadas numa tela.
A felicidade é apenas vivenciar um estado interior para lá das aparências.
É preciso ser-se, para ser-se integralmente o que se é.
A verdade é um caminho percorrido ao encontro de si, pé ante pé.
Reinaldo Barros, 7 de Julho de 2013
terça-feira, 2 de julho de 2013
Demita-se a credibilidade
O senhor Ministro das Finanças demitiu-se alegando já não
ter credibilidade para continuar em funções depois de ter falhado a maior parte
das suas previsões.
Confesso que senti algum respeito pela coragem que o senhor Ministro
demonstrou ao chamar a si a responsabilidade por uma série de opções erradas que
outros apoiaram e que agora renegam. Foi demonstrativo de alguma verticalidade,
dignidade e inteireza de carácter. Quem assim procede tem a minha simpatia.
O senhor Ministro sentiu-se desapoiado para prosseguir num
caminho que se adivinha ainda mais difícil e conflituoso: o do Estado, ao
arrepio da Lei constitucional, contra os direitos sociais dos cidadãos, em nome
dos objectivos traçados pela sacrossanta Troika. O conflito com o Tribunal
Constitucional é apenas uma pontinha do iceberg de ilegalidades que a Troika propõe
ao Estado. E dá-se o caso de o Estado, ao agir ao arrepio da Lei, ter deixado
de ser, para os cidadãos, uma pessoa de bem, ou seja, perdeu a credibilidade.
O senhor Primeiro Ministro nomeou a senhora Secretária de
Estado do Tesouro para o lugar do Ministro das Finanças demissionário.
O senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros demitiu-se por
discordar da nomeação da senhora Secretária de Estado para o lugar do senhor
Ministro das Finanças demissionário.
O senhor Primeiro Ministro assistiu à tomada de posse da
senhora Ministra das Finanças ao mesmo tempo que recebia a carta de demissão do
senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros.
O senhor Primeiro Ministro disse ao País que não se demite e
que ficou surpreendido com a resignação ao cargo do senhor Ministro dos
Negócios Estrangeiros.
Em causa está a credibilidade externa do País para sustentar
os momentos difíceis que vivemos. Logo agora que só falta mais um aninho de
sacrifícios para resgatarmos a nossa independência face aos credores. Logo agora
que já há tímidos sinais de crescimento económico. Logo agora…
A imprensa internacional deu eco dos acontecimentos
nacionais. As bolsas de valores ficaram nervosas. A cotação dos bancos baixou. Os
juros da dívida soberana aumentaram.
É tudo uma questão de credibilidade.
Milhares já emigraram porque não acreditam no que se passa
cá dentro. A UGT declarou guerra ao governo porque perdeu a confiança no
executivo. Os parceiros sociais deixaram a mesa das negociações porque não
existe uma verdadeira vontade de concertação. As pessoas estão revoltadas porque
já não dão crédito aos políticos. A miséria, o desemprego e o caos social
reflectem a mesma falta de credibilidade de que se queixou o senhor Ministro
das Finanças demissionário. Já ninguém dá crédito a ninguém (Nem os bancos!). É
a mais dramática de todas as misérias!
O problema é que mesmo que quiséssemos nós, o povo, não podemos
mandar uma carta de demissão ao senhor Primeiro Ministro resignando à nossa
função de meros contribuintes. Somos obrigados, não sei porque Lei, a carregar
o fardo das leviandades de todos esses decisores políticos incompetentes, de
Lisboa a Bruxelas, que desenharam o cenário de crise em que hoje todos
vivemos. É difícil aceitar que, depois de tamanhos dislates, eles ainda se
acreditem credíveis.
Entretanto, a tal Troika admite que errou em todas as
previsões. Essas previsões erradas afectaram de forma desastrosa a vida de
milhões de pessoas. Apesar disso, a Troika é credível. Mas é credível para
quem? Ninguém os pode demitir?
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