domingo, 7 de julho de 2013

A sombra de si

 
Na tela esticada projetam-se as sombras do mundo, lá fora.
Não há vislumbre de espaço, nem cor. Apenas silhuetas vagas e familiares.
A luz, filtrada pelo tecido que se interpõe entre o meu olhar e o mundo, é baça e difusa.
Existe uma barreira de ferro oculta que se deixa fotografar ostensivamente, sem pudor.
A imagem, estática, não registou a brisa que enfunava a tela, nem o som dos pássaros livres, nem o riso das crianças que brincam distraídas, aqui ao lado.
As sombras chinesas têm a sua poesia, o seu mistério. Mas são uma verdade manipulada e relativa.
 
Rodando o meu olhar, noventa graus à minha esquerda, vejo o mar e o céu azuis.
A encosta desce em declive suave, coberta de verdes copas, num chão vermelho e sépia.
A vida tem estes contrastes de solidão e alegria, prisão e liberdade, ocultação e transparência.
A verdadeira realidade é sempre mais do que aquilo que imperfeitamente percecionamos.
 
A sabedoria nasce de compreendermos que muitas das nossas crenças não passam de uma fugaz ilusão que se projeta na tela dos nossos pensamentos. E que todo o sofrimento decorre da mentira em que vivemos. E que somos apenas sombras de mentiras projetadas numa tela.
 
A felicidade é apenas vivenciar um estado interior para lá das aparências.
 
É preciso ser-se, para ser-se integralmente o que se é.
 
A verdade é um caminho percorrido ao encontro de si, pé ante pé.
 
Reinaldo Barros, 7 de Julho de 2013


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