O Céu sem nuvens

Aviões sem poiso
Descolam do infinito.
Esperam asas de carbono
E ligas leves de outra natureza.
Arrastam consigo a luz,
O som, o tempo,
Os pés polidos
Das estradas,
O pó dos ossos,
As bagas de cansaço.

Um risco no chão
Dividindo a terra.
É o sinal de fogo
A rasgar a noite
Que viaja.

A ponta de uma faca
Desgastou o vento.
E a praça dança,
Com tambores e corpos,
O abraço das paredes
Caiadas da nudez
Que nunca dorme.

Gravetos secos de miséria
Na mão incerta das crianças.
São o presságio seguro
Dos corações do mar,
Onde o mistério dos dedos,
Teimosamente livre,
Se revela.

Olhos acordados, em silêncio,
Descobrem cicatrizes no céu.
E como doidos
Falam amor
Embrulhado em disparates.

A língua sabe a doce
Como um rio que se perde
Na macieza dos lençóis.

A beleza do aço contagia
O coração insone da esperança.
Largam aviões sem poiso
E as palavras desfalecem.


RB Junho 2013

Sem comentários: